19 de novembro de 2016

Dia Internacional da Tolerância

     No dia 16 de novembro é celebrado o Dia Internacional da Tolerância. Esta data foi aprovada pelos estados membros da UNESCO depois de ter sido celebrada, em 1995, do Ano das Nações Unidas para a Tolerância.
      Assinalar este dia é muito importante, porque a data pretende promover o bem estar, progresso e liberdade dos cidadãos e também fomentar a tolerância, o respeito, o diálogo e a cooperação entre todos os seres humanos, independentemente da cultura, povo, civilização ou religião.
    Cabe a todos nós a promoção da tolerância no mundo. Assim sendo, a biblioteca escolar, sugeriu a leitura da história “O Macarronete” (disponível em https://verticalizar.wordpress.com/2007/09/13/o-macarronete/) que foi deixada em todas as salas de aula da escola Gomes Eanes de Azurara.

O Macarronete
A Sr.ª Joana estava de vigia durante o intervalo grande.
Da zona dos quartos de banho, soava em coro:
“Tónio Macarronete tem lêndeas e uma pulga no barrete.”
Correu para o magote de crianças que se acotovelavam num círculo fechado à volta de Tónio Zuccarelli.
Tónio tinha as mãos enfiadas nos bolsos das calças, a cabeça encolhida e os olhos pregados no chão. Era um palmo mais alto do que as restantes crianças da terceira classe.
— “Tónio Macarronete…” — recomeçava Carlos Blum a cantar.
— Acabou! — gritou a Sr.ª Joana, separando as crianças. — É muito feio andarem sempre a aborrecer o Tónio — ralha à sua classe.
— Ele é engraçado quando fica furioso — diz Carlos Blum.
— Fica parecido com um cão que farejou um gato — grita Sílvia.
— Calados! Ninguém se parece com um cão.
— Quando Tónio se enfurece, fica parecido com o nosso cão. —replica Sílvia.
— É isso mesmo! — confirma Carlos, embora nunca tenha visto o cão de Sílvia.
Carlos está zangado com Tónio. Antes do Italianito ter vindo para a turma, Carlos era o mais forte. Mas Tónio suplantou-o. E o Sr. Blum também dizia: ” Os Esparguetes [1] aqui só nos tiram os postos de trabalho.”
Por que é que a Sr.ª Joana tinha de ter sentado o Italianito precisamente na mesa de Carlos? O pai também tinha dito: “Nem deviam deixar os estrangeiros frequentar as escolas alemãs.”
Depois do intervalo, a Sr.ª Joana faz uma proposta:
— Como estamos no Advento, vamos fazer um jogo bonito — diz.
— Escrevi o vosso nome em papelinhos. Cada um vai tirar um nome mas ninguém deve dizer o que lhe saiu.
— Não se pode dizer a ninguém? — pergunta Sílvia.
— A ninguém. Depois cada um de vocês vai fazer as vezes de gnomo para aquele menino cujo nome lhe saiu.
— Gnomo? Que disparate! O que é isso? — gritam as crianças numa grande confusão.
— Eu não inventei o nome nem o jogo — diz a Sr.ª Joana. — Mas posso explicar-vos o que é. Cada gnomo deve pensar, para cada dia, como fazer uma surpresa ao outro. Tudo tem de ser feito em segredo. Ninguém deve dizer a quem é que vai fazer essa surpresa durante o Advento.
— Disparate — diz Carlos. — Gnomices, mas que disparate!
— Não é disparate nenhum — retorquiu a Sr.ª Joana. — A alegria é muito mais bonita quando é proporcionada a outro.
— E se eu tirar o nome deste aqui? Vou ter então de lhe dar alguma coisa todos os dias? — Carlos aponta para Tónio.
    “Isso é que seria óptimo para o Carlos!”, pensa a Sr.ª Joana.
Mas Carlos não tirou o nome de Tónio. No seu papel estava escrito Miguel.
No primeiro dia, Carlos encontrou no bolso do anoraque uma bolachinha de canela. Quem é que sabia que bolachas de canela eram as suas preferidas? Teria sido o seu amigo João que lhas oferecera?
No segundo dia encontrou no estojo um cromo de colecção do famoso futebolista brasileiro Pelé. Era mesmo aquele que lhe faltava. O gnomo parecia conhecer Carlos muito bem. Mas quem seria?
Nos dias seguintes, recebeu imensas coisinhas que já há muito tempo queria ter: um pequeno aguça em forma de globo, uma pastilha elástica enorme, um berlinde minúsculo, um anzol e, de uma vez, até uma coisa com a qual toda a turma se admirou. Carlos metera muito naturalmente a mão à pasta e retirou-a logo, assustado. Alguma coisa se mexia lá dentro. Com cuidado, tira então um pequenino novelo castanho que era afinal um ratinho hamster.
Talvez Carlos descobrisse agora quem lho teria oferecido. Quem é que tinha em casa um goldhamster? Mas por mais que investigasse, não foi muito longe. Embora João tivesse um goldhamster, onde já se viu um hamster macho ter filhotes?
No último dia de aulas antes das férias de Natal, a maior parte dos alunos já adivinhara quem tinha sido o seu gnomo.
Fora uma bonita época de adivinhas e surpresas. Só Carlos não fazia a menor ideia de quem lhe tinha dado os presentes. Até que encontrou no caderno, depois do intervalo grande, uma magnífica série de selos italianos. Selos? Italianos? Carlos olhou Tónio com um olhar duvidoso.
Este olhou-o com medo.
— Tu, Macarr…? — Carlos engoliu em seco. — Foste tu, Tónio?
Tónio acenou com a cabeça.
— Rapaz! — disse Carlos, dando-se conta de como tinha sido mau.
— Obrigado!
— Foi bonito — respondeu Tónio.
Na noite de Natal, o carteiro trouxe um postal de boas festas gigante para o aluno Tónio Zuccarelli, onde estava escrito:
Querido Tónio,
desejo de todo o coração
que tenhas um Feliz Natal.
Carlos
Tónio pregou o postal por cima da cama com um alfinete.
Willi Fährmann
Jutta Modler (org.)
Frieden fängt zu Hause an
Munique, DTV, 1989
Tradução e adaptação
[1] nome pejorativo dado aos italianos. 

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